sexta-feira, 18 de junho de 2010

INDEPENDÊNCIA DA TANZANIA



INTRODUÇÃO


Para se entender o processo das lutas de emancipação para a independência do Tanganica é preciso considerar um conjunto de características de relevância particular: a primeira é o espaço geográfico caracterizado pela diferença étnica; a segunda é o facto de Tanganica ser colónia alemã desde a Conferência de Berlim e só após a I guerra mundial passou para a tutela da SDN, sobre o domínio britânico. Nos campos onde as populações africanas eram mais sensíveis as mudanças, sua revoltas transformaram – se em oposição, em reivindicação e em protestos sociais de forte caris religioso. Tratava-se de formas de reivindicações de descontentamento ou seja de elites políticas que em geral lideraram manifestações contestatórias que desde a II guerra mundial, foram elementos importantes para mobilizar as massas, tornando-as a base social de apoio dos movimentos de independência da Tanzânia


1. SITUAÇÃO GEOGRÁFICA, ECONOMICA E SOCIAL


Situada na costa leste da África, a Tanzânia é constituída pelo território de Tanganica, no continente, e pela ilha de Zanzibar, no oceano Índico. O país é famoso pelos atracões naturais, como o monte Kilimanjaro, o mais alto da África, os parques de animais selvagens e os três maiores lagos do continente - Vitória, Tanganica e Malauí. Reúne povos de diferentes etnias como: Nilo-camiticos na região Oeste, em Zanzibar existe a minoria Shiraizi, de origem Persa. Em ambas as regiões, há grupos reduzidos de Árabes, Indo paquistaneses e Europeus e religiões: muçulmanos, cristãos, hindus e adeptos de 120 crenças animistas nativas.


E possuía uma base económica virada para a Agricultura (cana-de-açúcar, algodão, arroz, banana, chá, cacau, café, centeio, coco, milho, tabaco e trigo).


2. COLONIZAÇÃO


Ø Antecedentes da colonização



· Período dos persas do século X e inicio do século XV


Com a fundação Sultanato de Kilwa volta de 965, varias dinastias shirazi estabeleceram -se na área. Em 1405, o sultão Hassan Bin Suneiman refugiou-se em Zanzibar após ser expulso de Kilwa… neste período a população nativa adoptou a fé Islâmica.


No final do século XV Zanzibar tornou-se um Sultanato independente.


A ilha de Zanzibar e o litoral de Tanganica são centros de comércio árabe entre os séculos VII e XVI.


· Período do português século XVI- XVII


Vasco da Gama no curso da sua viagem a Índia chega até Zanzibar e esta cai sob o controle de Portugal, desde o Mar da Arábia até Sófala em Moçambique estes marcaram pelo duro tratamento a população, pesadas taxas e a colecta de impostos. Não deixaram nenhuma importante contribuição social ou cultural. Toda resistência de suas conquistas terminou em 1506 e pelos próximos 200 anos, eles controlaram as rotas comerciais para a Índia, os Muscat na Arábia e Ormuz na Pérsia. As missões cristas estabeleceram-se em 1610 pelos Jesuítas, mais a religião não obteve muito sucesso. O exercício do poder pelos portugueses por dois séculos sofreu uma sucessão de revoltas em todos os seus territórios. Em 1652, os portugueses são expulsos de Zanzibar pelo sultão de Omã, que em 1824 transfere sua capital para a ilha.


O poder Árabe em Zanzibar tornou-se absoluto por 150 anos, marcado por feudos de várias famílias árabes, alguns chefes nativos mantiveram o seu poder em alguns lugares insulados.


· Conquista alemã


A Alemanha conquista Tanganica em 1884 e a transforma em colónia com o nome de África Oriental Alemã. Zanzibar torna-se protectorado britânico em 1890. Tropas britânicas e alemãs combatem em Tanganica durante a I Guerra Mundial. Terminado o conflito, com a derrota Alemã a região passa a ser administrada pela Sociedade das Nações (SDN) sobre o comando do Reino Unido.


Ø Colonização Britânica do Tanganica (a Tanzânia)


Nos países da África Oriental, a politica será nitidamente menos liberal do que na África Ocidental.


Em 1948, o colonial Office instituiu de novo para concretizar o projecto da unificação de Tanganica, Kénia e Uganda. Foi criada uma alta Comissão da África Oriental, composta por três Governadores que actuariam junto com uma Assembleia Central formada por representantes dos três países para discutir assuntos relativos a infra-estrutura e finanças e finanças.


O reino Unido visava inclusive dar forma constitucional a Confederação e organizar o Self - Government.


No entanto, este projecto desagradou a muitos. Em Uganda era preponderante a força politica de Uganda que temia fazer parte de um conjunto mais heterogenia, a sua estrutura monárquica fosse ameaçada; outro motivo, foi o medo dos fazendeiros brancos das terras altas do Uganda e do Kénia, receosos de que o desenvolvimento das suas actividades económicas fosse comprometido pela integração de Tanganica, um território pobre, o que ficava evidente no próprio nome que etnologicamente significa «terra ou cidade árida».


Os Britânicos no entanto, fiéis ao ideal de desenvolvimento tentaram implementar no Tanganica um plano de desenvolvimento económico voltado para a Agricultura.


3.PROCESSO DE EMACIPAÇAO POLÍTICA


O descontentamento do povo Tanganica devido ao crescente número da população branca e a importância cada vez maior dos interesses económicos anglo-saxónicos na região. Os descontentamentos manifestavam-se nas identificações religiosas entre os africanos, o que propiciava a formação de movimentos e acentuada religiosidade que pontuaram a história da luta para a liberdade na Tanganica desde a época de dominação Alemã. O exemplo clássico, foi a revolta Maji-Maji, que embora ocorrida em 1905, foi capaz de unir grupos étnicos historicamente diversos, alem de acarretar vários desdobramentos, sendo por isso considerada a primeira manifestação protonacionalista da Tanganica.


É de maior importância destacar os movimentos proféticos, messiânicos e de Igrejas africanas independentes participaram, na Tanganica, de um duplo processo de construção de identidades. Por um lado, referido aos valores e as tradições religiosas e, por outro lado, ligados os motivações de protesto ampliadas após a segunda guerra mundial, como atesta os movimentos dos Akambas e Abagusses contra a utilização da força física no confisco de terras; na cobranças de impostos, sobretudo o da «palhota», que pesava mais fortemente sobre os polígamos; na indignação acarretada pela troca dos chefes tradicionais por outros.


Assim, os movimentos sucederam-se uns aos outros. Tinham diferentes durações e ofereciam diversos graus de dificuldade para serem eliminados, como foi o caso do mumboísmo, que alcançou o apogeu no século XIX e foi se transformando em movimento político de resistência do homem branco na segunda metade do século XX, articulando com nitidez religião tradicional e contestação política.


Também foram registados movimentos milenaristas que se formaram entre 1910 à 1922, como o culto kathambi, desenvolvido entre os machakos. Eles consideravam o tempo presente e depositavam grande esperança em uma transformação radical e completa do mundo, no caso, limitado à Tanganica sobre o jogo britânico.


As autoridades britânicas reagiram com pequenas reformas no sistema político e, em parte por isso, os movimentos milenaristas desorganizaram-se, entrando em descenso. O que não significa que as massas tenham deixado de ser hostis à dominação colonial, vindo a integrar-se mais tarde, com êxito, ao movimento de independência com propostas reformistas e modernizantes.


Além dessas forças sociais, outras actuaram no âmbito de uma competição política intensa. Foi o caso «associações de jovens» (asomi ou josomo), isto é, associações formadas por ex-alunos das escolas missionárias, que quando se tornaram catequistas, lideraram movimentos de massa, desenvolvendo campanhas políticas nas quais as críticas ao sistema colonial eram bastantes contundentes. Por sua vez, opondo-se aos chefes locais nomeados pelos colonizadores, também as associações reformadoras constituídas por agricultores e empresários africanos actuaram contra o sistema colonial por considerarem seus interesses prejudicados pelos dos colonos europeus. Já os trabalhadores se rebelavam contra as formas compulsórias de trabalho, por exemplo, na construção de ferrovias e obras públicas. A essas manifestações a burocracia colonial não tardou a responder, adoptando regras escritas que se constituíram «contratos de serviço», cuja desobediência poderia implicar multas e prisão. Ainda assim, as greves foram recorrentes.


Em 1955,o Conselho legislativo da Tanganica não contava com nenhum membro eleito e no conselho executivo inexistiam africanos. Ao mesmo tempo que a crise se expandiam apareciam com nitidez os efeitos da pressão política dos africanos, dando mostra do esforço de vários sectores da sociedade, orientados para conquistar uma nova forma de vida. Como resposta, em 1957, foi instituído o sufrágio universal, acompanhado por uma lei que previa uma representação igualitária entre os europeus, os africanos e os indianos.


No ano seguinte, no âmbito da formação de um espaço organizado de interesses nacionais, realizaram-se eleições, dando ensejo para que Julius K. Nyerere ganhasse um significativo relevo político.


Esse destacado professor de História foi um dos fundadores, ainda quando estudante, de uma secção de associação africana da Tanganica, fundada em 1929, e que desde 1945 foi o elo efectivo entre movimentos de resistência rurais espalhados por todo o território. Em 1954, a organização que de inicio tinha carácter elitista transformou-se em popular, elaborando um programa claramente nacionalista. Surgia assim a Tanganica African National Union (T.A.N.U). Convidado para o Congresso de Tutela, assentou ainda mais a ideia da libertação Politica e criticou severamente o carácter Anti-democratico do sistema Plurirracial. Com seu carisma, Nyerere promoveu um reencontro das reivindicações contidas nas crenças e nos rituais religiosos com forte conteúdo patriótico. Esse é um dos temas complexos que merece estudos mais avançados. Nyerere, tornou-se o pesadelo da Administração britânica.


Um Partido Administrativo, o Tanganica United Party, fundado em 1956 para apoiar os pontos de vista multirraciais do governador Twining, so conseguiu uma ínfima audiência nos meios africanos. Conseguiu assim, galvanizar o entusiasmo dos militantes da T.A.N.U, que como saudação, lançavam o slogan do Partido: Uhura Na Kazi (Liberdade e Trabalho). Mas Nyerere era partidário da não-violência. Embora designado em 1957, ao mesmo tempo o sindicalista Rashidi Kawawa, como membro do Conselho Legislativo, pediu a demissão pouco depois, porque não eram atendidas as suas propostas para uma representação igualitária entre africanos e não africanos. Aceitou, no entanto, participar nas consultas eleitorais de 1958-1959 e o seu Partido conquistou todos os lugares africanos e tornou-se o único interlocutor valido da Grã-bretanha. Durante o mesmo período o governador Tumbull substituía Twing e Jain Mac Leod sucedida ao aristocrata conservador Lennox Boyd.


A Cooperação com Tumbull trouxe consigo uma evolução sem conflitos para a Independência. Em 1960 instalava-se já uma Governo responsável (Madaraka), com a maioria dos lugares do Conselho Legislativo eleito a pertencer aos africanos.


No que se refere especificamente ao T.A.N.U, era um partido que defendia liberdades políticas e apontava a violência do sistema Plurirracial, nas suas dimensões política e económica, ressaltando seu significado sociocultural. Em sua prática política ocupa-se em apontar o carácter fragmentário e desigual da representação política da Tanganica. Referia-se ao facto de que era conseguida a mesma percentagem de representação para 20 mil europeus, 100mil asiáticos e 9 milhões de africanos. Ainda assim, adepto da não-violência, Nyerere aceitou participar do processo eleitoral em 1958 à 1959. Esse líder carismático sensibilizou a população, acentuando que todos tinham experiencias comuns de previsão e exclusão, levando T.A.N.U a conquistar uma expressiva vitória tornando-se locutor da Grã-Bretanha para discutir questões de ordem político-constitucional.


Além disso, contando com a cooperação do governador Tumbull, tornou-se possível propor um calendário de transição para a independência, da qual fazia parte significativas alterações do poder administractivo-jurico, além da concessão do alto governo programada para Março em 1961 e a independência para 9 de Novembro desse mesmo ano.


De maneira gradual, no decorrer de 1960, foi tomando forma o governo independente, contando com a ocupação de africanos na maioria dos lugares do Conselho Legislativo eleito. Os africanos ocuparam 71 lugares, dos quais 700 eram do T.A.N.U, 11 dos asiáticos e 10 dos europeus. Foi, sem dúvida, uma vitória constitucional, incluindo a ampliação dos direitos políticos sobretudo dos africanos, mas também dos asiáticos. Quanto a Nyerere, passou a ocupar o cargo de ministro-chefe do governo com maioria africana. Mostrava-se francamente favorável a retardar a independência da Tanganica caso fosse essa a condição necessária para uni-la a Uganda, ao Quénia e a Zanzibar, formando um Estado federal cujo maior objectivo era a conquista da «Independência e Unidade». No entanto, a ideia que implicava a federação tornou-se irrealizável por um bloqueio de perspectivas próprias a cada um dos territórios envolvidos.


Em 8 de Dezembro de 1961, enfim, a meia-noite, o Pais alcançava a soberania nacional. No mesmo instante, no monte Klimanjaro, sobre os picos cobertos de Neve era içada a Bandeira Verde, Amarela e Preta do Tanganica, símbolo sublime do renascimento africano. Julius Nyerere que cedera por algum tempo oposto de primeiro-ministro a Rashidi Kawawa, viria a ser no ano seguinte, por Plebiscito, o primeiro Presidente, quando o País passou a Republica (Jamhuri). Mas o País sofria de imensidade do seu território sem infra-estruturas suficientes. Sofria também da Mediocridade dos seus recursos naturais e da falta de quadros africanos.


Quando, em 1964, a reivindicação dos quadros se entendeu ao exército um Golpe de estado militar, pós em dificuldades Julius Nyerere, que teve de recorrer as tropas britânicas para estabelecer a ordem. Com efeito o Tanganica tornou-se o 14º Membro da Commonwealth, após a Independência.


Poucos anos depois, em 1964, a ilha de Zanzibar, pondo fim a uma longa dominação árabe, uniu-se à Tanganica, que passou a chamar-se Tanzânia, tendo Julius Nyerere como presidente.


Socialismo africano


No governo de Julius Nyerere, a Tanzânia adopta o chamado "socialismo africano" isto é, não uma cópia fiel do socialismo Europeu, mais um socialismo baseado na realidade dos povos africanos, e estabelece fortes laços políticos com a China. Nyerere deixa o poder em 1985, com a eleição do candidato único para a Presidência, Ali Hassan Mwinyi. Mas Nyerere continua figura dominante na política do país até se aposentar em 1990. Na segunda metade da década de 80, o governo de Mwinyi afasta-se do socialismo.


CONCLUSÃO


Concluímos que a luta de emancipação política do Tanganica, não foi tão violenta (armada), em relação aos outros territórios que estavam sob tutela da Inglaterra, apesar do descontentamento dos povos desta região ter começado com o domínio alemão, e posteriormente britânico. Verificou-se o surgimento dos grupos políticos por intermédio das igrejas que apelavam a luta pela liberdade dos povos. Com o surgimento dos partidos políticos como o T.A. N.U. de J. Nyrere, T.U.P. e Sindicato, para luta de independência, foi mais dinâmica e organizada, ganhando espaço na assembleia legislativa, proclamando a sua independência em 8 de Dezembro de 1961, com Julius K. Nyerere presidente da república, adoptando o sistema Socialista puramente africano, por isso é considerado o pai do socialismo Africano.

BIBLIOGRAFIA


AFRICA NA SALA DE AULA- Hernandez, leila leite


HISTÓRIA DA AFRICA NEGRA – Zerbo ,joseph, Vol. 2


CADERNO DO TERCEIRO MUNDO


IDIOLOGIA PARA AS INDEPENDENCIA DA AFRICA, Vol. 2


WWW.WIKIPEDIA.COM




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